Entendendo o mundo árabe em quadrinhos
Os conflitos que hoje assolam o Oriente Médio têm diferentes motivos. Podemos citar questões como a imposição de valores ocidentais às milenares tradições orientais, fatores econômicos e a questão política como os principais entraves na região, mas eles não são os únicos.
Pelas diferenças encontradas entre o Oriente Médio e o Ocidente, entender os costumes e ideias de seus povos é uma tarefa complicada, mas é aí que entram os quadrinhos. Existem diversas publicações sobre o Oriente Médio nesse formato e o que mais me chama atenção nelas é a forma como ajudam a elucidar questões como a guerra, política e como a religião e a interferência de outros países, principalmente europeus e os EUA, delimita a vida dos civis.
Mais do que um passatempo, as histórias em quadrinhos podem servir como uma boa ferramenta de aprendizado sobre essa cultura tão rica e intrigante. Mas chega de papo furado, vamos a lista dos quadrinhos essenciais para se entender o mundo árabe.
HQ O Paraíso de Zahra (Amir & Khalil)
O Paraíso de Zahra é uma obra de ficção que narra a história do desaparecimento do jovem Mehdi após a forte repressão do governo iraniano as manifestações geradas pela suspeita de fraude nas eleições presidenciais em 2009. A graphic novel mostra a incansável busca de sua mãe e seu irmão por um Irã sacudido pela Primavera Árabe e infestado de crueldade e corrupção.
HQ Palestina (Joe Sacco)
Palestina foi a primeira reportagem criada em formato de quadrinhos e devido a sua qualidade e importância chega a ser comparada ao trabalho de Art Spiegelman em Maus. A série do jornalista Joe Sacco em parceria com a editora Fantagraphics rendeu um prêmio Pulitzer ao autor.
O livro funciona como um diário durante a visita de dois meses que ele fez à Palestina entre os anos de 1991 e 1992, mostrando ao leitor tudo o que acontece em sua volta e as conversas e interações que teve com as pessoas da região.
HQ Habibi (Craig Thompson)
A graphic novel Habibi, de Craig Thompson conta ao longo de suas mais de 600 páginas a história de Dodola e Zam, um jovem casal de escravos fugitivos que precisa sobreviver em um mundo hostil lutando contra o fervor religioso e as tradições de um país ficcional do Oriente Médio, além, é claro, de lutar pelo primeiro amor.
Além de conhecer a saga de Dodola e Zam, o autor nos apresenta um mundo repleto de aventuras quase mitológicas que ajudam a conhecer a origem do islamismo e de suas tradições, algo que é muito distante para o público ocidental.
HQ Persépolis (Marjane Satrapi)
Um HQ que foi indicado como um dos 10 melhores livros da década pela revista Newsweek e a cuja adaptação para o cinema foi indicada ao Globo de Ouro e ao Oscar já mereceria ter destaque nessa lista. A história contada nas páginas da HQ Persépolis mostra a infância e adolescência da quadrinista iraniana Marjane Satrapi.
A HQ acompanha as mudanças ocorridas durante a revolução islâmica no Irã em 1979. Em questão de meses o Irã entrou numa onda de conservadorismo e repressão que fez o país se fechar para a cultura do resto do mundo. Além disso, o livro nos revela os medos e incertezas de um civil em meio a uma revolução ou de uma guerra.
HQ Budrus (Irene Nasser)
HQ com um toque brasileiro. Adaptada para HQ pela ativista palestina Irene Nasser e editada pela ONG Just Vision, a obra é inspirada no premiado documentário lançado pela brasileira Julia Bacha e conta a história do vilarejo dos protestos no vilarejo Budrus do ponto de vista da jovem Iltezam Morrar.
Budrus é um vilarejo localizado na fronteira entre a Cisjordânia e Israel, por onde passa um trecho do muro da Cisjordânia. Para evitar a destruição de oliveiras que garantiam a renda de muitas famílias da aldeia, Ayed Morrar e sua filha tomaram à frente de protestos não violentos, que conseguiram unir facções palestinas historicamente rivais, como o Fatah e o Hamas, e ainda judeus progressistas em torno da não construção do muro.
HQ Valsa com Bashir (Ari Folman)
Inspirada no documentário de mesmo nome, a graphic novel reconstrói a memória do massacre de centenas de palestinos nos campos de refugiados de Sabra e Chatila durante a invasão do Líbano por Israel, em 1982. Na época, o hoje cineasta Ari Folman era apenas um soldado israelense de 19 anos enviado para estes locais.
Valsa com Bashir narra a guerra a partir da perspectiva desse simples soldado e de seus colegas de batalhão. Um detalhe que faz a diferença na trama é que o ponto de partida da trama é justamente um bloqueio de memória: Ari Folman não lembra desse massacre e nem de alguns fatos da guerra. Dessa forma, Valsa com Bashir não é exatamente um relato autobiográfico, mas também uma investigação, uma procura por fragmentos de um fato histórico e de suas próprias memorias.
Por fim, é importante fazer referências a obras como “Os Melhores Inimigos”, “Como entender Israel em 60 dias ou menos”, “Crônicas de Jerusalém”, “O Mundo de Aisha” e “O fotógrafo uma história no Afeganistão” e “O árabe do futuro” que vão ficar para outro post. E aí gostaram de conhecer essas HQs? Se você sentiu falta de alguma obra ou tem alguma sugestão não esqueça de deixar seu comentário.