Farto de Fazer Tolice #1 – Analfabetismo Funcional

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Depois de tanto postergar, finalmente atendo ao pedido do Leo e dou início a uma coluna aqui no Deveserisso!. Toda sexta-feira trarei textos, crônicas, contos ou desabafos sobre qualquer insanidade amena que passar por essa cabeça calva que carrego acima do pescoço. Basicamente são pontos de vista de alguém farto de fazer tolices que, aliás, é o nome da coluna.  Se errando que se aprende, posso me considerar um exemplar e assíduo educando do cotidiano.

Analfabetismo Funcional

Cíclico e igualmente devastador. É uma frase curta, uma fase confusa me apartando de ideias e do que um dia foi ideal mútuo.

Consegui despir o véu do orgulho que não ajudava em nada. Só chamava mais atenção e isso é o que tento evitar. Sigo me equilibrando entre a condição de muleta e amuleto. Todos estão livres para escolher qual encenação é mais real.

Tudo é passível de aceitação, inclusive essa ambiguidade. Já decifrei os símbolos, mas não consigo absorver o contexto. Sou um analfabeto funcional nesse tipo de jogo.

Aprendizagem é muito relativa, exige tempo, e geralmente, um marco que define quando passamos a aceitar que nada acontece de acordo com as nossas necessidades. Tudo é volátil, mas ainda não tenho claro o quanto estou disposto a ponderar.

Rearranjos e mudanças de rota exigem uma resiliência desgastante demais para quem não consegue crer em nada além da própria descrença. E este é meu ponto de partida. Por amor funciona se há o mínimo de empatia, no mais é só pela dor. Cortar na carne e torcer para que a coagulação funcione como testei anteriormente, enquanto o sangue segue espesso, permaneço despreocupado.

Não consigo mais fazer concessões, relevar ou fingir simpatia para me encaixar em qualquer grupo que seja, principalmente naqueles que estão muitos de meus conhecidos.

Sinceramente, tenho evitado discussões e conversas abertas por perceber que não vale a pena estar em lugares por comodidade.

Existe a cobrança de atenção, uma carência tão forçada quanto os sorrisos e uma infinidade de assuntos desconexos supostamente importantes. Convenções sociais e a necessidade de ter opinião formada sobre amenidades cotidianas estão no fim de minha lista de prioridades.

Quando perguntam o que quero, só consigo responder sobre o que não quero.

Parece uma piada de mau gosto ouvir discursos de desprendimento e evolução vindo de quem nunca se colocou fora da zona de conforto e optou por uma alternativa mais trabalhosa e menos benéfica. Parece que a lógica de mercado tem influenciado mais forte o direcionamento das pessoas que eu acreditava.

Percebi que ganhei a corrida por nem ter me dado ao trabalho de participar da largada, não quero um objetivo palpável num futuro próximo, não pretendo estar com a vida resolvida tão cedo.

Quando não houver mais nada para fazer ou para onde ir, é melhor ser enterrado. Acumular e empilhar troféus pra deixar pegando poeira não faz meu tipo. Desconfio de quem se diz plenamente realizado e continua vivo para contar a história.

Ou está mentindo ou chegou num nível tão alto de desespero que precisa contar repetidamente seus feitos heroicos para lembrar que está vivo. Prefiro continuar sendo o melhor em nada pra não precisar competir com ninguém.

Estar vivo é uma condição, se sentir vivo é escolha.