Mas É Isso Mesmo?

De tempos em tempos algumas palavras e expressões ganham força e quando menos esperamos tornam-se recorrentes, e de certa forma, viram atalhos e acabam passando batidas pelo contexto e pela demasia que são empregadas.

‘Pós-verdade’ é a expressão do ano e aliada com sua irmã ‘notícia falsa’, foram e são aplicadas em demasia por qualquer interlocutor que tenta desqualificar um texto crítico e não elogioso ao seu trabalho ou conduta.

Uma fuga usual em um período onde a relevância dos fatos e maneira que são apresentados deforma o entendimento das notícias. A aplicação de dados parciais que compõe o corpo de matérias polarizadas buscando o enfraquecimento dos debates sempre apelando para o emocional do público.

A diminuição do interesse em checar fatos e fontes contribui para a criação de notícias falsas ou recortes de situações que não são compatíveis com a realidade. A busca por informações verídicas por vezes é tortuosa e há casos onde mesmo após o fact checking, não há certeza de um campo seguro.

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Alguns grupos de jornalismo independente fazem há algum tempo este trabalho e até estimulam outros grupos a seguirem este caminho. Recentemente grandes grupos de mídia e gigantes na propagação de informações tem se preocupado em desenvolver ferramentas para diminuir a incidência de notícias falsas em suas plataformas.

Um complicador nesse processo de verificação é o emocional do público, pois muitas pessoas não dão crédito às notícias que são desfavoráveis aos seus gostos. Anteriormente apenas notícias ligadas a assuntos políticos faziam que a polarização impedisse uma visão equilibrada sobre o tema discutido, hoje qualquer tema tem grupos prontos a defender seus pontos de vista de maneira unilateral.

A constante busca por validação de seus ideais gera uma cegueira conveniente para aqueles preocupados em apenas vencer debates, mesmo que de maneira rasa ou falaciosa, pois na visão desses indivíduos o importante não é a busca pela verdade, mas por gritar mais alto o seu ponto de vista. Em tempos em que gastamos muitas horas virtualmente, estas vitórias estão ligadas ao grande número de curtidas e compartilhamento em links nas redes sociais.

E como sempre há quem lucre em períodos de guerra, atualmente é fácil de deparar com milhares de blogs e páginas especializados em produzir e divulgar notícias falsas ou irrelevantes, apoiadas em títulos sensacionalistas e textos rasos.

Outros veículos utilizam textos opinativos como fonte fiável e aproveitam a visibilidade e influência de seus colunistas para divulgar teorias e posicionamento ideológico de seus grupos políticos/midiáticos.

E nessa disputa a vantagem está em quem consegue vender mais, independente da qualidade que é entregue. Num país onde o analfabetismo funcional e político têm níveis altamente preocupantes, dificilmente será possível reverter em um curto prazo a tendência de o público consumir notícias viciadas ao invés de matérias que primam pela credibilidade dos fatos puros.

Para contribuir na discussão dessa pauta, gravamos nosso primeiro podcast e abordamos algumas maneiras de enxergar e se defender de notícias falsas. Apresentado por Ikie Arjona e Leo Cruz, numa conversa de pouco menos de uma hora tratamos do assunto com exemplos inseridos num diálogo despretensioso e baseado em experiências próprias.

Participação especial: Mateus Fagundes, jornalista do Grupo Estado de São Paulo.

No quadro de encerramento, o Bloco de Notas, apresentamos algumas sugestões de leitura relevantes à pauta e também dicas sobre álbuns que escutamos essa semana.

Baixe o episódio aqui ou ouça no link abaixo.