A comédia mais importante da história do cinema

Famoso por sua comédia stand-up e filmes galhofas até então, Woody Allen já havia se estabelecido como rei da comédia em solo americano quando a ideia do roteiro surgiu. O escritor sentia que precisava seguir seus instintos e abrir-se mais ao público.

Aficionado por cinema, notou que o gênero de comédia romântica já estava defasado há muitos anos: “A gente assiste como se fossem filmes antigos, e são deliciosos. Mas são enrolados, baseados num esquema que o público superou. Nesse novo roteiro, estou tentando trabalhar por dentro, da neurose pra fora, para não parecer datado daqui a cem anos” disse em uma entrevista três anos antes do lançamento.

E conseguiu, com louvor, revolucionar não só com o enredo, mas também na maneira de fazer filmes.
Annie Hall é sobre conflitos sutis, aqueles que raramente pegam fogo, mas pelos quais toda e qualquer pessoa passa. E são expostos de maneira brilhante:

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“Deus, espero que ele não acabe sendo um imbecil como os outros”. Legendas mostram o que os personagens estão pensando enquanto dizem coisas totalmente diferentes.
Separados por uma parede, e não pela edição: O ritmo cômico torna essa uma das cenas mais engraçadas do filme.

Quebra da quarta parede: Alvy não se conforma com um estranho dizendo asneiras na fila do cinema, comenta sobre isso com o espectador e traz o próprio filósofo citado pra desmentir o sabichão.

Um dos filmes mais curtos a ganhar um Oscar de Melhor Filme, Annie Hall conta com flashbacks, monólogos, uma sequência de animação, mini sketches de comédia surreal, cenas experimentais como aquela em que a personagem de Keaton assiste ao casal fazendo sexo de fora do corpo…Tudo isso em 90 minutos de muito conteúdo pra te fazer pensar enquanto ri.

Uma obra mais madura que seu autor

Pode-se dizer que Annie Hall é uma crítica a Woody Allen escrita por ele mesmo (e um co-autor). Apesar dos fatos fictícios, a história é baseada num romance real: Os personagens são fielmente inspirados em Woody e Diane Keaton, a atriz principal, com quem ele tivera um romance de um ano que já havia acabado antes do roteiro ser escrito.

O protagonista Alvy Singer não só preenche todos os requisitos de um personagem típico de Allen, mas expressa e expõe ao ridículo tudo o que o polêmico autor tem de pior.

Alvy vê sua parceira como um animal que precisa ser domesticado, sempre impondo a ela o que fazer e pensar. Julga-se tão superior que se distrai com a beleza de Annie e subestima sua inteligência até levar um belo pé na bunda. Depois disso lamenta o fato da ex ter ido atrás de seus sonhos e se mudado pra Los Angeles (como as pessoas que ele sempre criticava numa tentativa de torná-la tão antissocial quanto ele).

Mas tudo isso nos é insinuado de forma inteligente desde o começo. O término do casal não é um spoiler: Alvy diz “Um ano atrás estávamos apaixonados”, como quem ainda tenta entender o que aconteceu.

O filme leva o nome de Annie, uma mulher apaixonante, de estilo próprio e que faz as coisas como bem entende no fim das contas, sem sofrer muito com o que não deu certo. Alvy, que como a maioria dos alter egos de Woody também é escritor, escreve uma peça sobre eles dois, com uma pequena diferença: Em sua trama Annie o ama mais e volta para ele. Na mesma cena, o próprio personagem julga sua atitude como patética.

Isso foi maravilhoso! Amo ser reduzida a um estereótipo cultural”, é a resposta que Alvy ouve depois de fazer exatamente isso e admitir que falou como um completo imbecil.

Além de impressionar com seu perfeito equilíbrio entre intelectualismo e sensibilidade, estilo e comédia, Annie Hall sobrevive ao teste do tempo porque é sobre relacionamentos como realmente são, zombando de estereótipos, inclusive alguns dos quais o próprio autor ainda não havia se desprendido na época.

Uma boa comédia deve nos fazer rir daquilo que vivemos repetidamente e ainda não entendemos porque o fazemos…Talvez porque precisemos dos ovos.

Um cara vai ao psiquiatra e diz, “Doutor, é, meu irmão é louco; ele pensa que é uma galinha.” E o médico responde, “Bem, por que você não o interna?” O cara diz, “Eu internaria, mas eu preciso dos ovos.”

Acho que é bem assim que eu me sinto sobre relacionamentos. Eles são totalmente irracionais, e loucos, e absurdos, e…mas, acho que nós continuamos passando por isso porque, bem, a maioria de nós…precisa dos ovos.

E você, o que acha de Noivo neurótico, Noiva nervosa (Annie Hall)? Conte para nós nos comentários!

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