O Hangar 110 faz falta pra você que não sai de casa?
Eu tinha recém completado quatorze anos quando fui pela primeira vez ao Hangar 110. Saí do extremo leste com mais um amigo, de moicano torto levantado à base de sabão e uns poucos trocados que serviriam pro ingresso e transporte.
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Era treze de abril de um longínquo 2002. Fazia um ano que o Joey Ramone estava morto e foi feito um show em homenagem ao vocalista da banda que mudou a vida de muita gente que conheço e certamente também importava para as quase mil pessoas que estavam lá naquele dia.
E durante dez anos frequentei quase semanalmente assistindo os mais variados line-ups possíveis. Gostava do espaço, das pessoas e das oportunidades de aprender que aquele ambiente proporcionava. Acima de tudo era a vontade de ouvir música ao vivo e ver pessoas de verdade que prevalecia.
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Por intermédio desses rolês que fui apresentado a pessoas, filosofias, bandas e inclusive outras casas de show e bares. O Hangar 110 era a maior e provavelmente a mais estruturada, mas Black Jack, Cervejazul, Magic Bus, Fun House, Vila Rock, Tribe House, Outs, Inferno, Ska Skate Rock e diversos espaços também serviam para ajuntamento de quem queria ouvir música e participar sendo público ou banda.
Manter uma grandiosa estrutura como a do Hangar 110 é absurdamente cara e problemática, ainda mais com a sazonalidade de público e demandas que o mercado musical acaba impondo. No período em que o mainstream pescou bandas underground houve uma explosão de bandas e público em diversos espaços, inclusive gerando muito dinheiro para produtores mambembes se utilizando de bandas de aluguel.
Consequentemente gerou uma impressão que esse ciclo seria eterno e renovável, porém como o próprio Alemão afirmou em seu discurso ontem, grande parte das bandas não fazem da música nada além de um pedestal para sucesso efêmero e seu público é tão frágil e passageiro quanto os “artistas”. É um sistema autofágico e hoje é notório que voltou ao estágio normal e aparentemente até diminuído.
Quando o Hangar 110 abriu as portas era um espaço mais que necessário e durou tanto por ser um marco e pelo respeito que tratou a todos. Infelizmente seguiu o caminho que espaços lendários de outras praças sofreram, o Garagem Hermética em Porto Alegre, Circo Voador no Rio de Janeiro ou Aeroanta em São Paulo ou outros espaços que mudaram de lugar algumas vezes e mantiveram os nomes como o 92° em Curitiba.
Infelizmente temos hábitos preguiçosos e engessados, onde assistir shows é resguardado apenas aos finais de semana. Raras exceções ocorrem pontualmente e acabam se tornando inviáveis financeiramente.
E não acredito que a cena independente morrerá pelo fechamento do Hangar 110, pois como antes segue pela coragem e disposição de vários que dão murro em ponta de faca e fazem o que podem pra seguir dando voz aos seus ideais.
Coletivos como a Howlin Records e Cérebros Surdos em São Paulo, os meninos da Prejuízo Records e o recente Lavanderia de Curitiba, todo o trampo do Alan Chaves na Minor House em Porto Alegre, o esforço hercúleo da Thrash Unreal Records para trazer bandas para o interior do Rio Grande do Sul, entre outros espalhados pelo país mostram que apesar da dificuldade sempre há espaço quando existe seriedade e vontade de seguir em frente.
Apoie às bandas e aos selos independentes frequentando shows, comprando discos e materiais de divulgação, entre em contato com coletivos ou organize-se para fazer as coisas acontecerem. Ocupe os espaços de tua cidade e habitue-se a estar em contato mais pessoalmente do que virtualmente. Seja numa casa de shows com 900 pessoas do outro lado da cidade ou numa praça com 50 em seu próprio bairro.
Do Hangar 110 sentirei saudade por tudo que vivi ali dentro e o que o contato com os que conheci ali proporcionaram. Desejo sorte ao Marco Alemão, Silmara, Tom e tanta gente boa que fez aquilo ser o que é.
Abaixo deixo uma entrevista que em conjunto ao meu amigo Victor Guerra fiz com banda Dead Fish no show de comemoração de 10 anos do CD Sonho Médio no Hangar 110.