Um mês sem Lemmy Kilmister, o cara mais genuíno do rock

Um mês sem Lemmy Kilmister, o cara mais genuíno do rock

28 de dezembro de 2015 não foi um dia comum, foi quando recebemos aquela notícia que esperávamos há muito tempo, mas que não queríamos ouvir. Há um mês perdemos a figura mais genuína do rock’n roll, o cara que, por quase 50 anos, usando suas famosas cordas vocais roucas e as mãos rápidas no baixo, mostrou ao mundo que três acordes barulhentos podem criar um estilo único de fazer música.

Com 70 anos, Lemmy Kilmister carregava a essência de sua música no jeito de se vestir, de falar e, principalmente, no jeito de levar a vida, era quase que uma caricatura de roqueiro que conhecemos dos livros ou filmes. A única diferença é que Lemmy não era uma caricatura, era aquele tipo de cara sincero que não quer, e nem precisa, agradar ninguém.

Talvez seja essa a grande força do Motorhead, sua banda desde 1977, com os parceiros “Fast” Eddie Clarke e “Philthy Animal” Taylor. Eles não faziam música para a crítica, faziam só o que gostavam com referências como Beatles e ZZ Top. Muitas outras formações vieram depois dessa, mas o grupo nunca deixou de acreditar em seu próprio som. Como líder do Motorhead, Lemmy carregou a autenticidade musical da banda até sua morte.

As botas brancas, o chapéu preto e a camisa western eram a marca registrada de Kilmister, criando a figura perfeita de um cowboy, rústico e simples, que sempre aceitava convites para cantar em shows de amigos ou dar depoimentos sobre os ídolos e companheiros da música, exemplo disso são os discos de rockabilly que lançou com Danny B. Harvey (Rockats, 13 Cats e Lonesome Spurs) e Slim Jim Phantom (Stray Cats).

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Lemmy era muito querido pelos jornalistas de rock e fãs do gênero justamente por não ter papas na língua. Gente do mundo todo sonhava em encontrar o cantor tomando uma dose de whiskey no Rainbow, bar na Califórnia (EUA) que ficou famoso pelas bebedeiras da turma do rock na década de 70.

Sempre acompanhado de um copo com Jack Daniels e Coca-Cola, sua bebida preferida, ele nunca fez da bebedeira um problema para cancelar shows ou se recusar a dar entrevistas. James Hetfield, vocalista do Metallica, disse uma vez que admirava isso em Lemmy, porque ele sempre estava bêbado, mas nunca destratou alguém ou deixou de trabalhar por conta disso. Lemmy nunca prejudicou alguém pelo excesso de álcool e drogas, só a si mesmo.

Nos inúmeros documentários feitos sobre Lemmy e a banda, o mais divertido (pra quem curte a história da música) é prestar atenção aos depoimentos de artistas ou dos próprios músicos. Algumas situações são tão engraçadas que fica difícil de acreditar que um dia o rock juntou tanta gente boa e formou amizades verdadeiras.

Com certeza, Lemmy deixou de contar histórias muito boas sobre a vida na estrada, mas nos presenteou com discos inegavelmente muito bons. Além de deixar um rico legado para os iniciantes no rock, ele nos contou como foi viver na época áurea do rock, dar início a uma nova geração em um mundo musical que não existe mais.

No filme Quase Famosos, de Cameron Crowe, o jornalista Lester Bangs diz para o jovem William Miller em 1973: “Você perdeu a melhor época do rock. O rock morreu”. Não, ele não estava morto, ele ainda ia conhecer um sujeito chamado Lemmy Kilmister e, aí sim, iria morrer.