Star Trek: Deep Space 9, a série que você devia dar uma chance

Pensei muito se devia escrever esse texto sobre Deep Space 9, primeiro, porque a série já tem mais de vinte desde a sua estreia, em 1993 e, depois, não sou uma especialista do universo de Star Trek criado por Gene Roddenberry, mas depois de assistir ao incrível episódio Far beyond the stars, 13º episódio da 6ª temporada da série, decidi que sim, esse spin-off continua atual e merece toda atenção possível.

Antes de Deep Space 9, meu conhecimento do universo se limitava, confesso, lamento e pretendo corrigir, aos filmes da era J. J. Abrams e a alguns episódios assistidos ao acaso da série Next Generation (1987) em domingos de pouco movimento no começo dos anos 2000, mas, mesmo com a pouca bagagem inicial, é difícil não reconhecer a importância da franquia para a cultura pop mundial.

[wbcr_php_snippet id=’53103′]

Uma rápida pesquisa no Google já nos mostra que a ideia inicial de Star Trek é criar um universo em que Terra e os humanos vivem em uma utopia, integrados a outras raças alienígenas por toda galáxia, através da chamada Federação dos Planetas Unidos. Não há guerras, fome, miséria e as liberdades fundamentais são garantidas a todos os cidadãos, independentemente de gênero ou raça. A Frota Estelar é o braço militar/científico/exploratório da Federação e são as viagens e aventuras dessas equipes — inicialmente com a tripulação da Enterprise — que iremos acompanhar durante as séries e filmes. É nessa atmosfera de viagens espaciais que vemos o desenvolvimento das histórias na maior parte da franquia, com um forte apelo para a crítica social e para temas como diversidade e aceitação — é importante lembrar que Uhura (Nichelle Nichols), por exemplos, foi uma personagem fundamental nos anos sessenta, sendo uma mulher, e principalmente uma mulher negra, a ocupar uma posição de destaque em uma série de sci-fi.

Assim, seguindo esse mesmo enfoque, Deep Space 9 é exemplar em trazer temas fortes da franquia, mas de um jeito um pouco diferente: aqui não vemos tanto da exploração espacial característica e não estamos, necessariamente, em uma utopia.

[insert_php] include(TEMPLATEPATH . ‘/filmes.php’); ?> [/insert_php]

Estamos no espaço de Bajor, um planeta que acaba de se libertar do controle de um invasor belicoso e cruel, os cardassianos, que escravizaram o povo e roubaram as riquezas do lugar por cinquenta anos. Agora livre, Bajor conta com a ajuda da Federação para auxiliar a reestruturação do planeta e, principalmente, garantir que Cardassia, representada predominantemente pela figura do antigo governador da ocupação, o manipulador e calculista Gul Dukat, brilhantemente, interpretado por Marc Alaimo. Bajor não deseja se tornar refém de outra potência estrangeira, ainda que considere se unir à Federação no futuro, e por isso a equipe da Frota não se instala em solo bajoriano, mas na antiga estação espacial cardassiana Terok Nor, agora rebatizada de Deep Space 9.

É na estação que se passará a maior parte das aventuras da tripulação liderada pelo comandante Benjamin Sisko (Avery Brook) e é exatamente aí que está uma das grandes sacadas da série, que se permite utilizar as idas e vindas de naves que utilizam a estação (que por acontecimentos importantes do primeiro episódio se torna, por acaso, um estratégico ponto de parada) e o grande número de civis da Promenade como motores para a história. Na DS9 há um senso de comunidade, de raiz, que provavelmente não seria possível em uma série de viagens espaciais e que é fundamental para o desenvolvimento de personagens. Além disso, o contexto bajoriano, recém-liberto e bastante religioso, dá à série o material necessário para abordar temas tabus, como órfãos de guerra, violência, dominação, colaboracionismo, terrorismo, dentre outros, que normalmente não são trabalhados tão explicitamente em séries de TV. Longe de ser o paraíso que são os planetas da Federação, Bajor está repleto de problemas internos deixados por Cardassia, fanatismo e xenofobia.

A galeria de personagens é outro ponto positivo da trama, diversa, multifacetada e muito bem trabalhada, os personagens de DS9 o coração da serie. Passando de uma oficial de ligação bajoriana até metamorfos, médicos humanos presunçosos e uma oficial de ciências que tem um vermezinho em seu estômago que lhe permite acessar todas as memórias e habilidades de antigos hospedeiros ou ainda um barman capitalista-orelhudo-trapaceiro, mas com momentos de coração mole e um comandante viúvo, pai de adolescente e fanático por baseball, apenas para começar, escolher um favorito de Star Trek: Deep Space 9 é uma tarefa quase impossível.

Para todos aqueles que gostam de boas ficções científicas e excelentes histórias fica a recomendação. Todos os episódios das sete temporadas de DS9 estão disponíveis na Netflix.