Doutor Sono agrada aos fãs de O Iluminado sem perder a linguagem de terror atual
[wbcr_php_snippet id=’53103′]
Por Clids Ursulino
Sendo O Iluminado, clássico de Stanley Kubrick, meu filme favorito desde que me conheço por gente, quando o anúncio de que Doutor Sono, obra de Stephen King lançada em 2013, estava em produção, eu senti um misto de alegria e preocupação. Mesmo sem ter lido o livro, nós enquanto fãs de algo, temos medo de que o legado dessa obra seja afetado e, assim sendo, nossa memória afetiva também. Mais ou menos o que eu senti com Rei Leão que se provou uma preocupação justificada por que né? Mas bem, vamos ao filme…
Qual a ligação entre Doutor Sono e O Iluminado?
Doutor Sono se passa em 2011, 31 anos após os acontecimentos de O Iluminado. Danny Torrance (Ewan McGregor), agora um adulto traumatizado pelas experiências vividas no Hotel Overlook, busca uma mudança de ambiente quando se muda para Frasier.
Nessa cidade, após encontrar a aparente paz que buscava tem contato com Abra (Kyliegh Curran), uma menina nascida em 2001 com os mesmos “dons” de Danny. Abra está em perigo, sendo perseguida por Rose Cartola (Rebecca Ferguson) e o Verdadeiro Nó, grupo que busca a imortalidade, se alimentando do brilho dos iluminados.
No decorrer de seus 150 minutos, o filme passeia pela negação, aceitação e redenção de Danny, alcóolatra em recuperação enquanto ele não ajuda Abra com a situação envolvendo o Nó. E também no entendimento de seu poder, algo que o próprio Danny encontrou em Dick Hallorann, ao descobrir esse lado da sua mente no primeiro filme.
Mike Flanagan consegue ambientar bem a obra de Stephen King e homenagear Kubick
Doutor Sono apresenta um prólogo relativamente longo para desenvolvimento dos personagens, uma bela jogada do diretor, pois estamos falando da continuação de um filme de quase 4 décadas atrás. Mike Flanagan, conhecido recentemente pelo seu sucesso com A Maldição da Residência Hill, série de terror da Neflix que fez muito sucesso no ano passado e também por Hush, thriller psicológico de 2016, se mostra competente desde então na construção de filmes e séries do gênero.
Em Doutor Sono, o diretor consegue criar ambientações e climas que servem de homenagem ao clássico de Kubrick (com alguns easter eggs, então assistam atentos) e também marcam as caixas de requisitos dos bons filmes de terror desse novo século.
O elenco também merece destaque. Ewan McGregor está incrível e entrega ao personagem Danny a continuação que ele merecia. Rebecca Ferguson (conhecida dos últimos capítulos de Missão: Impossível) se mostra uma vilã aterrorizante, mas ao mesmo tempo, carismática, sendo a femme fatale clássica, que você pode amar ou odiar e ninguém vai te julgar. O resto do elenco também cumpre o prometido, especialmente a atriz mirim Kyliegh Curran, em performance poderosa no papel da jovem iluminada Abra Stone.
O risco calculado foi o trunfo dessa adaptação
Claro que nem tudo são rosas e o Doutor Sono tem seus defeitos, mesmo que pequenos. Algumas sequências são ambiciosas além do necessário, defeito esse que também é comum nessa nova roupagem do horror atual.
Alguns fãs do filme original podem acabar torcendo o nariz para algumas cenas, especialmente as que envolvem os personagens apresentados em 1980, mas isso era um risco que com certeza o diretor sabia que estava em jogo.
Sempre que algo mexe com o imaginário de uma obra já consolidada na mente dos fãs, mexe também em todo um universo criado por quem nunca teve sua continuação. Por tratar de uma obra envolvendo dois dos melhores e mais aclamados contadores de histórias que o cinema e a literatura já tiveram (Kubrick e King respectivamente), esse risco é elevado ao quadrado.