Coringa e a fantástica fábrica de sociopatas
[wbcr_php_snippet id=’53103′]
Desde o primeiro trailer, as expectativas para o Coringa de Todd Phillips eram as mais altas possíveis. Declarações, notícias, imagens e cada detalhe que foi revelado até a estreia, contribuíram para que muito do filme fosse discutido mesmo antes do lançamento.
A indústria sabe criar mitos, mas a expectativa exacerbada trata de derrubá-los rapidamente. Com tantas informações, análises e teses sobre um personagem tantas vezes representado, ir ao cinema ver a interpretação de Joaquin Phoenix sem uma ideia formada sobre a obra foi um trabalho árduo.
Felizmente, tudo que foi prometido por Phillips, DC e Warner foi entregue. Pelo menos para quem leu corretamente as pistas que foram deixadas pelo grupo criativo responsável pela produção.
Coringa não é um filme para servir aos fãs do personagem das HQ’s. É um aglomerado de referências bem embasadas com um estudo sobre formações sociais que utiliza a loucura como recurso narrativo de exposição de tese.
Coringa é nada ortodoxo em todos os sentidos, desde a concepção até o final da execução
Em Jesus Chorou, Mano Brown sintetiza em uma frase o poder destrutivo que traumas e abalos psicológicos podem causar na conduta social de qualquer pessoa. “Eu sei, você sabe o que é frustração, máquina de fazer vilão”. Arthur Fleck sentiu isso na pele, e durante o filme acompanhamos agoniados a construção da sociopatia que o transforma no Coringa.
Muito dessa crescente loucura até o descontrole total do protagonista, só conseguem ser transmitidas de maneira tão visceral, por conta da brilhante atuação de Joaquin Phoenix. Em cada detalhe, o ator conseguiu inserir fisicamente e emocionalmente sua leitura de maneira singular.
Salta aos olhos um Coringa de humor sombrio, cada vez mais desconectado da realidade, inapropriado e por fim dominado por uma insanidade que se torna coletiva. Cada um carrega um pouco da loucura de Arthur Fleck, inclusive uma porção da culpa por aquilo que ele se torna.
É impossível uma sociedade doente e indiferente às angústias individuais produzir bons frutos. A ambientação escolhida por Todd Phillips em uma Gothan abandonada e carente deixa a reflexão sobre o quanto cidades deterioradas influenciam na criação de seus vilões.
Um filme que precisa ser visto mais vezes para captar tudo que apresenta
Já falamos em outras matérias que o filme seria composto por muitas referências externas. Nem tão presas e fiéis aos quadrinhos, mas ligadas a personagens de clássicos do cinema que carregam essa loucura sociopata do Coringa.
Por vezes mais sutis, e em outras escancaradas, percebemos essas notas durante todo o filme. Pessoalmente, não senti falta de uma adaptação canônica das HQ’s. Entendo que a falta de referências massivas a outros personagens da DC Comics deu a liberdade que o filme precisava para funcionar.
Coringa de Todd Phillips não é um elo para compor uma trama futura reunindo demais personagens do universo do Batman. O filme é singular por usar a complexidade de um personagem batido para abrir diálogos sobre como somos e agimos em sociedade.
É possível fazer filmes mais densos e complexos utilizando figuras da cultura pop. Menos fan service e mais maturidade funcionaram muito bem para a DC nessa produção.
Já assistiu Coringa? Conte pra gente nos comentários o que achou do filme com Joaquin Phoenix!